Aquele era o dia de esbanjar confiança, e decidi dedicar aos infames companheiros acéfalos da classe masculina essa aulinha de como se conquistar uma mulher em quatro fases. E.. Talvez eu devesse escrever um tutorial a respeito.
O Aquecimento:
A esquadrinhei toda, rico em detalhes, se houvesse um concurso, eu gabaritava, se fosse uma corrida eu era barbada. Ela irradiava a mulher séria e inteligente, com senso de humor apurado, entretanto adormecido. Não usava acessórios, exceto pelo par brincos de pedrinhas, seus óculos para leitura (com a ponta das hastes marcadas por mordidas) já tinham se tornado parte do desenho do seu rosto, dedos com salpicos de tinta azul mostrava alguém que tinha como melhor amiga uma caneta na maior parte do dia, nada de decotes, nada de fendas na saia, nada de saltos. Enigmática feito a esfinge, "decifra-me ou te devoro" era sua personificação.
Approach:
Talver por se tratar de uma espécie de labirinto, o primeiro contato era realmente a parte mais complicada de todas, mas eu tinha informações suficientes pra sair na pole position. Sem me dar ao luxo de ignorar tais detalhes, sempre que tocava uma música, percebi que seus pés marcavam um ritmo cadenciado, lento.. Nice and slow, parece que encontrei o pote de ouro e o leprechaun, me dirigi à jukebox e arrisquei uma setlist com base em Elza Fitzgerald - Barry White - Etta James (que timaço).
Start:
Quando seu drink estava um pouco abaixo da metade eu me adiantei ao garçom mais próximo solicitei mais um para a dama da oitava mesa da esquerda, ao invés de azeitona, cerejas, duas! Subliminarmente acho que o vermelho revelaria parte da minha intenção. Ela entenderia o recado, se quisesse. Pela direita a mão do garçom, pela esquerda, o intruso. Numa fração de segundo, a troca rápida de atenções entre a surpresa do drink estranho e alguém que tenha se aproximado tão furtivamente, chegado sua bolsa aberta para o lado e sentado-se.
- Muito obrigada, mas aquele era meu último drink.
- Talvez, o último sozinha, com o perdão da intromissão, me apresento, Eros.
- Perdoada a intromissão Sr. Estranho, mas não estou tão interessada em companhia, como pode perceber, não se importe nada pessoal.
- Talvez não esteja interessada numa companhia qualquer, mas se me permitir, posso ilustrar o diferencial, aí se tornaria pessoal.
- E como seria isso, se já começou seu ato como um "convencional"?
- Talvez tenha razão, mas se não souber seu nome antes de saber se quer dormir comigo me sentirei "mais um".
- Hahaha.. Claire, prazer.
- Posso sentar-me?
- Já está sentado, porém não se acomode tanto.
- Certamente que não, vejo que move seus pés tão discreto e ritmado que parece até que gosta dessa música.
- Sim, gosto, inclusive percebi que foi você que fez a setlist. Apesar de distraída, percebi suas intenções. À propósito, eu sou alérgica à cerejas, e detesto vermelho.
- (...) Me desculpe, mas não esperei que a comesse.
- Nem morta! Bom, então estamos encerrando por aqui?
- E me faria a desfeita de deixar seu drink pela metade?
Em dois goles ela bebeu o restante da taça e eu, me f...
- Então..?
- Sinto que não me permitiu mostrar a razão do meu interesse.
- Eu permitiria, se não fosse descrente da natureza masculina. Vocês, só mudam de endereço.
- E de personalidade, no reino animal os chipanzés se destacam pela inteligência, outras raças pela força bruta.
- Admiro seus esforços sr. Discovery Channel, serei bem educada e sincera com você. Realmente não estou interessada.
- (...) É realmente uma pena Claire, a vejo aqui há pelo menos dois meses toda sexta, nessa oitava mesa, o mesmo dry Martini. Eu a aprecio, percebi coisas em você que ninguém mais aqui teria notado.
- Pretencioso, entretanto honesto. Sim, você é diferenciado, elegante e simpático. Parabéns, és um Gentleman, agradaria à muitas outras aqui.
- Agradeço seus elogios, mas não gostaria de agradar "às outras".
- Sinto muito, mas já está tarde. Você daria um ótimo papo, para um dia menos tenso.
- Ok, dou-me por vencido por hoje, até sexta que vem.
- Até.
O trunfo:
Ao levantar eu confiei no seu andar, e mantive minha certeza de que ela olharia pra trás. Errei, mas nem tudo estava perdido, ela entraria no carro preto estacionado há menos de 50 metros dali, e esperei na porta do bar, mirando-a. O garçom tentava me convencer de que ela era realmente jogo duro, que seria impossível a conquista. O gostinho amargo de derrota vinha sutilmente no final de cada gole do meu chopp. E lá se vai, o que tinha de diferente naquela mulher? Ora.. eu também não sou perfeito, naum posso vencer sempre, mas perder? Não.. perder jamais.
... Ao abrir a bolsa e pegar a chave do carro veio junto um bilhete dizendo:
"Perdão pela invasão do íntimo universo da bolsa feminina, ao deixar esse cartão, mas não pude deixar de notar que você mentiu ao dizer que detesta vermelho, essa dúzia de flores sobre o seu banco do carona são um pedido de desculpas, e suas cores têm uma representatividade. Meu telefone é uma espécie de Call Center, ligue se precisar, talvez outro dia. A América não foi descoberta em um única semana. Vá pra casa em paz, bom descanso.
Eros.
PS: a faixa 4 do cd que está no player é a que estava tocando na jukebox, não sei por que mas tive a impressão de que é sua música favorita."Song 4 the moment - I've got so much to give, Barry White
6 comentários:
Perfeito, simples, o poder de supreender uma pessoa que se acha imbativel, mas é só uma criatura indefesa..
Muito boa meu garoto, muito mesmo ,, a sua melhor!
grande abç
Nada melhor que surpreender... Um absurdo! Não sei nem o que falar. :)
A melhor fato ** Toda vez me deixa de queixo no chao filhooo!! Parabéns**
Adoreeeei =D
Gosto da sutilileza desses textos, ás vezes me imagino em perpendiculares situações como essa , sendo surpreendida de onde menos se espera...
O vermelho poderia chamar ,mas tb poderia brecar...
Fiquei intrigada apenas com o lance do carro, pareceu uma pegada meio Magayver sabee?!!!!!ahahah
De resto perfect,
K
Respeitável Público.........não! não ! isso seria quando o espetáculo começasse e infelizmente o SHOW já acabou !
Aguardo o próximo......
Palmas pra quando o show é bom, palmas até mesmo para os ruíns, por educação....
Mas assobios meu caro.......só faço quando é fantástico !!!!
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