Cada segundo dentro daquela lata de sardinha acabava com as minhas esperanças de um bom fim de semana que se iniciava, nessas horas todas aquelas pessoas estranhas que passam por nós todos os dias se tornam grande amigos num piscar de olhos. A natureza humana é realmente um campo de estudo constante. "Nossa, que chuva não?", esse era o start.
Eu só gostaria de saber porque eu era o único homem no mundo desprovido de coragem suficiente pra usar esse pretexto imbecil pra chegar nela, acho que sua forma de ignorar tudo ao redor era de certa forma repelente, mas ela era absolutamente fantástica em tudo que fazia, ou talvez eu fosse um idiota apaixonado mesmo, porque confesso que nunca tinha encarado de forma tão sexy uma mulher refazendo seu rabo de cavalo. Os cabelos pretos, tão discretos quanto o elástico que os prendia contrastava com grená das unhas bem feitas, por cima da armação de seus óculos ela parecia ter visão de "thundera" (rs..) e aposto que percebeu quando eu olhei de cima a baixo a desejando, tal como um cão, o filé.
Desembarcariamos juntos e eu só esperava este momento pra vê-la levantar (toda gostosa), dito e feito, nosso trajeto era igual e todos os dias eu fazia disso minha via crucis, as mesmas manias de atravessar fora do sinal, a mesma forma de subir os degraus de mármore da portaria, a mesma forma de chamar o elevador, que ao chegar, gentilmente abri a porta para ela que me retribuiu o favor perguntando "qual seu andar?" (como se não soubesse).
Estar com ela no elevador sozinho seria absolutamente normal se ela não estivesse com a blusa branca já molhada da chuva emoldurando a obra prima e isso não tivesse me deixado ligeiramente excitado, 2°.. 3°.. 4°.. E o elevador parecia gastar quinze minutos pra cruzar cada andar.
Num lance à la Hitchcock, eis que acaba a luz do prédio e num impulso feminino em busca de segurança ela deu um passo à frente e pôs a mão esquerda no meu peito e a direita no ombro, seguido de um pigarro e um "desculpa, me assustei", esse foi o start.
Na sã filosofia de alfandega adotei o "nada à declarar" só consegui passar meu braço pela suas costas e cintura a prendendo junto ao meu corpo, barriga com barriga, ambos os peitos arfando de tensão, e pela primeira vez revelamos um encontro de pensamentos em meses, éramos o objeto do desejo alheio, nos beijamos e eu pude sentir cada centímetro dela preenchendo minhas mãos, já que o mundo iria realmente acabar a qualquer momento, calculamos nossa pressa em frações de segundo, e foi só, o necessário, a cena era digna dos Cines Privé de minha adolescência, ela de costas pra mim e eu beijava, mordia seu corpo ainda molhado de chuva enquanto ela me acariciava e multiplicava as mãos feito uma Shiva, era realmente louca a sensação de transar no elevador com uma estranha que era completamente familiar.
Exatos 19 minutos foi o tempo de nossa perdição até ouvirmos o estalar das máquinas e nossos corpos separarem no susto, eu a encarava, e ela a mim. Chegamos ao 9°, ela amarrou o cabelo da mesma forma maligna ajeitando a saia ao sair, sorriu maliciosamente dizendo "Até amanhã, Tiago", eu avancei "Até, Paula".
Ela saiu, e eu absorto pensei, "Tiago..?". Ah! foda-se, ela também não era Paula coisíssima nenhuma.
Song 4 the monent - Spandau Ballet, True
6 comentários:
Mais um texto brilhante...amei!! Vc sabe como fazer a gente se envolver na historia...adoroo...continue escrevendo...imploro-te!!
Viajo, Nê..viajo !
Po mano, tá de parabéns! Texto brilhante a criatividade fluindo naturalmente , e é assim que seguem as boas crônicas, com entreterimento, prendendo a atenção do leitor com boas palavras e fazendo o mesmo se imaginar no ato, na cena...e você consegue isso! Parabéns, continua assim mano... Abraço!
Rene nem posso comenta muita coisa sobre isso ... carak sao muitas coincidências!!
o até amanha Tiago huahua...
e como sempre o texto impecável
Tiago foi foda .. haiuhaiuhaiah
gostei muito cara , mais uma pra record
Amei...
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