sobre..

Rene Barbosa por.. mim mesmo. Brasileiro, carioca, rubro-Negro. Em algumas oportunidades da vida aprendi importantes lições, ora às duras penas, ora na maciota, acumulei valores e decepções, perdi alguns rounds, em outros, esmurrei minhas adversidades com criatividade, e uma dose de talento bruto. Autruísta por natureza, egoísta por necessidade. Jamais falando de sí próprio na terceira pessoa. Sempre deixei que as pessoas me julgassem, algumas vezes me importei realmente com que pensavam, em tantas outras toquei o foda-se. Leia mais

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Qual é o seu preço?



Song 4 the moment - Love is a Losing Game, Amy Winehouse


São vinte pras cinco da manhã, e pretendo repetir esse gesto pela última vez nessa noite.
Com as mãos trêmulas e imprecisas pego um cigarro e o levo à boca acendo, no copo vazio ponho mais uma dose generosa de Gim, acrescento tônica, um pouco de suco e uma rodela de limão acompanhada de muito gelo, corro os olhos pela janela e vejo uma pracinha, um vira-latas revirando o lixo, com plano de fundo a suntuosa baía de guanabara e seus vagalumes. A voz de Amy Winehouse envolvia o ambiente e lento, fecho meus olhos respirando fundo fazendo a fumaça entrar nos pulmões, tomo mais um desproporcional e descontrolado gole me fazendo sentir gradativamente vertiginar, vertiginar..

Enrolados em meus dedos lá estavam seus cabelos castanhos claros, a cabeça repousada sobre meu peito, as pernas se enroscando minha coxa e sua mão acariciava minha barriga.
Um quarto quase escuro, exceto por uma teimosa incidência solar tentando ultrapassar o blackout e as grossas cortinas cinzas me faziam ver seus lindos pezinhos, brincando sobre os meus.
Dois corpos nús, cansados e entregues à proteção alheia, quero me lembrar, mas não consigo. Posso senti-la espreguiçar lenta e charmosa, tal qual uma gata, esticando a boca até meu pescoço me beijando e subindo até meu ouvido, sua voz rouca balbuciava (...). Ouço palavras, mas não consigo discernir, tento ver seu rosto mas a luz difusa do quarto não me permite, tento chamar, tento me virar, mas estou preso imóvel, parece castigo.

A cena era inédita, talvez fosse um sonho de amor, gostoso, porém se tornava cada vez mais inquietante, eu sentia seu peso, seu perfume, seu calor, seu tesão.. Mas sentia também algo estranho como uma faca em brasa atravessar meu tórax quando uma porta se abre, instintivamente penso que precisava sair dali imediatamente, não tenho que fazer parte do restante da cena, entretanto, numa fração de segundo tudo ali agora parecia fazer sentido, eu sentia em minhas mãos um frio palpável das chaves da porta, os sapatos me apertarem os pés, caminhando lentamente pelo corredor, quando entro no quarto, minha visão se tornou turva, mãos e pernas tremiam e de joelhos sucumbi tomado por um misto de fúria, dor e vergonha, ao vê-la deitada, nua, devota, e não comigo, não pra mim. Em nossa cama, Nosso ninho.

Um tilintar me trouxe de volta à vista da baía de Guanabara, com o susto do estraçalhar do copo no chão, o cigarro já havia apagado na minha mão queimando-me, a voz do cd ainda soava baixinho, agora mais triste, melancólica. Atônito e nervoso, retiro de meu bolso, o celular que me despertara com a seguinte mensagem:

"Te avisei pra não brincar comigo e nem o que eu sentia, seus erros, seu preço, durma com o peso da sua covardia.."

Senti a dor de uma única lágrima rolar pelo meu rosto, o sentimento de culpa passava sobre mim como um rolo compressor, eu sabia que tinha vacilado, e ainda teria mais algumas noites pela frente lembrando disso.
Não foi por falta de aviso, nunca se deve brincar com um coração que não é seu, ou pague seu preço, não importa o quão alto seja.

2 comentários:

Lidia disse...

lindo....
talvez o mais lindo de todos...
e diferente tbm...

Os Sujos disse...

muito bom. O ritmo da frenético no estilo Kerouac. Não existe nada melhor do que a prosa espontânea.

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