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Rene Barbosa por.. mim mesmo. Brasileiro, carioca, rubro-Negro. Em algumas oportunidades da vida aprendi importantes lições, ora às duras penas, ora na maciota, acumulei valores e decepções, perdi alguns rounds, em outros, esmurrei minhas adversidades com criatividade, e uma dose de talento bruto. Autruísta por natureza, egoísta por necessidade. Jamais falando de sí próprio na terceira pessoa. Sempre deixei que as pessoas me julgassem, algumas vezes me importei realmente com que pensavam, em tantas outras toquei o foda-se. Leia mais

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Mais dez anos Beto? - Checkmate



Song 4 the moment - Too Much, Spice Girls

... Girei rápido a maçaneta e lá estava ela, só com uma calcinha - se é que aquele pedacinho de pano era uma - vermelha e minúscula, ajeitando os cabelos no alto da cabeça me mirando pelo reflexo do espelho.

- Tá esperando o que? Mais dez anos Beto?

Minha roupa saltava do corpo como se estivesse em chamas, e talvez estivesse.

Inteligência que permitia decifrar meus olhares, independente sempre que precisava e era tão simpática que com um sorriso atraía qualquer homem, articulada de modo que mantinha à seu alcance todos homens desde o segurança da boate até o primeiro ministro da Bélgica, audaciosa o bastante pra fugir na hora em que o circo pega fogo, só pra deixar com água na boca. Dona de uma eficiência comprovada quando o assunto era meu corpo, nada lhe escapava, nem um detalhe.

Nos últimos dez anos todas as vezes que nos pegamos era de impressionar, ambos sabiam como funcionava o jogo, e por mais que eu caísse em seus truques (todas as vezes), eu sabia os atalhos do tabuleiro, Nina nunca ignorou isso, era perspicaz demais pra subestimar seu jogador favorito, e estávamos nós mais uma vez, confinados num quarto, e um punhado de vontades. Esta noite o Rei preto subjugaria a Rainha branca, and you know o final disso era tão previsível quanto o roteiro da Malhação né?

Quietinha, sentada na beira da cama me fitando pelo reflexo do espelho estampava um sorriso tão desdenhoso que seria irritante, não fosse excitante, levantou uma das sobrancelhas e esboçou dizer algo que certamente seria em tom provocativo, porém com um gesto rápido eu a fiz desistir da ideia.

- Shhhh.. Quieta! (levei o dedo à boca em sinal de silêncio)

Como um leão eu devorava os poucos metros que nos divisava avançando, Rei e dois Bispos para o mate, forçando minha Rainha adversária a mover-se para um dos cantos do tabuleiro, ops! Da cama, mas ela é matreira, e esperou até o último segundo para me surpreender levantando rápido se esquivando num giro sobre os calcanhares, ganhou espaço suficiente pra se afastar e encher a mão em meu peito me derrubando sobre a cama, caí com ares de novato, com cara de otário, e o leão virou gatinho, mas não era o momento do rei se acossar. A Rainha Nina, com uma mísera calcinha ignorou minha toda minha realeza e montou fazendo a doma do cavalo.

- Shhhh.. Quietinho! (Ah.. Quanta ironia!)

A desgraçada sempre tinha um às na manga, e isso é o que me faz louco por ela, mulheres em geral parecem que sob pressão instintivamente trocam a razão pela emoção, mas quanto maior o risco, mais rápido Nina raciocinava, eu precisaria de uma jogada de mestre pra não entregar o ouro pra bandida. "Fudeu!" Me vi em xeque.

- Nina.. (tão baixinho que ela precisou descer da torre pra me ouvir)
- Hahahah. Perdeu, Beto! Você é meu gatinho..
- Já ouviu falar no Mate do louco?**
- Hã?

Diriam as mais feministas que os homens são seres acéfalos incapazes de administrar emoções e inteligência fazendo uso de sua brutalidade para alcançarem os objetivos, como no tempo das cavernas, como os peões do que se sacrificam por uma jogada. Ela conhecia as regras do jogo, e que entre nós havia sempre um coringa além da rapidez de raciocínio, reflexos, e malícia.
Nina jamais foi displicente, jamais deixou escapar uma palavra que me municiasse, quiçá um pensamento fraco, contudo ela subestimou o Rei preto quando se esqueceu onde estava. Montada sobre um homem nu (e excitado). Não pude evitar, fiz o que meu tesão mandou, e com tudo, com gosto.

A Rainha sentiu, fraquejou, soltou um gritinho, se entregou e sorriu.. Checkmate!

- Seu filho da puta, cachorro, covarde.. Quem mandou você fazer isso? (lutava pra dizer ofegante entre os gemidinhos)
- Quem mandou? Hahahah.. Nina, que fique bem claro. Quem manda nessa porra aqui sou eu!


Cá entre nós, perdedor ou vencerdor para nós tanto fazia. Naquele jogo éramos um do outro, sempre foi assim, e será até a próxima jogada.





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**Mate do Louco, é o xeque-mate mais rápido possível do xadrez, sendo executado com o segundo lance das peças negras. É extremamente raro, já que para a sua ocorrência as brancas devem cometer erros incomuns, mesmo entre principiantes, ao fazer duas das piores jogadas de abertura possíveis.

Qual é o seu preço?



Song 4 the moment - Love is a Losing Game, Amy Winehouse


São vinte pras cinco da manhã, e pretendo repetir esse gesto pela última vez nessa noite.
Com as mãos trêmulas e imprecisas pego um cigarro e o levo à boca acendo, no copo vazio ponho mais uma dose generosa de Gim, acrescento tônica, um pouco de suco e uma rodela de limão acompanhada de muito gelo, corro os olhos pela janela e vejo uma pracinha, um vira-latas revirando o lixo, com plano de fundo a suntuosa baía de guanabara e seus vagalumes. A voz de Amy Winehouse envolvia o ambiente e lento, fecho meus olhos respirando fundo fazendo a fumaça entrar nos pulmões, tomo mais um desproporcional e descontrolado gole me fazendo sentir gradativamente vertiginar, vertiginar..

Enrolados em meus dedos lá estavam seus cabelos castanhos claros, a cabeça repousada sobre meu peito, as pernas se enroscando minha coxa e sua mão acariciava minha barriga.
Um quarto quase escuro, exceto por uma teimosa incidência solar tentando ultrapassar o blackout e as grossas cortinas cinzas me faziam ver seus lindos pezinhos, brincando sobre os meus.
Dois corpos nús, cansados e entregues à proteção alheia, quero me lembrar, mas não consigo. Posso senti-la espreguiçar lenta e charmosa, tal qual uma gata, esticando a boca até meu pescoço me beijando e subindo até meu ouvido, sua voz rouca balbuciava (...). Ouço palavras, mas não consigo discernir, tento ver seu rosto mas a luz difusa do quarto não me permite, tento chamar, tento me virar, mas estou preso imóvel, parece castigo.

A cena era inédita, talvez fosse um sonho de amor, gostoso, porém se tornava cada vez mais inquietante, eu sentia seu peso, seu perfume, seu calor, seu tesão.. Mas sentia também algo estranho como uma faca em brasa atravessar meu tórax quando uma porta se abre, instintivamente penso que precisava sair dali imediatamente, não tenho que fazer parte do restante da cena, entretanto, numa fração de segundo tudo ali agora parecia fazer sentido, eu sentia em minhas mãos um frio palpável das chaves da porta, os sapatos me apertarem os pés, caminhando lentamente pelo corredor, quando entro no quarto, minha visão se tornou turva, mãos e pernas tremiam e de joelhos sucumbi tomado por um misto de fúria, dor e vergonha, ao vê-la deitada, nua, devota, e não comigo, não pra mim. Em nossa cama, Nosso ninho.

Um tilintar me trouxe de volta à vista da baía de Guanabara, com o susto do estraçalhar do copo no chão, o cigarro já havia apagado na minha mão queimando-me, a voz do cd ainda soava baixinho, agora mais triste, melancólica. Atônito e nervoso, retiro de meu bolso, o celular que me despertara com a seguinte mensagem:

"Te avisei pra não brincar comigo e nem o que eu sentia, seus erros, seu preço, durma com o peso da sua covardia.."

Senti a dor de uma única lágrima rolar pelo meu rosto, o sentimento de culpa passava sobre mim como um rolo compressor, eu sabia que tinha vacilado, e ainda teria mais algumas noites pela frente lembrando disso.
Não foi por falta de aviso, nunca se deve brincar com um coração que não é seu, ou pague seu preço, não importa o quão alto seja.
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