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Rene Barbosa por.. mim mesmo. Brasileiro, carioca, rubro-Negro. Em algumas oportunidades da vida aprendi importantes lições, ora às duras penas, ora na maciota, acumulei valores e decepções, perdi alguns rounds, em outros, esmurrei minhas adversidades com criatividade, e uma dose de talento bruto. Autruísta por natureza, egoísta por necessidade. Jamais falando de sí próprio na terceira pessoa. Sempre deixei que as pessoas me julgassem, algumas vezes me importei realmente com que pensavam, em tantas outras toquei o foda-se. Leia mais

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Hora extra, na sexta?

Era de dar gosto ver seu caminhar, Angélica era uma trintona perfeita. Respeitável, competente, linda, mas não era pra menos e nem só por isso ocupava a cadeira na diretoria de finanças.

Monique, era a secretária do poderoso chefão, não exalava nada de mais, um terninho azul marinho que já vira dias melhores emoldurava um corpo não muito sexy, de pernas grossas demais, quadris fartos demais, ela era um tanto "de mais", os óculos eram o perfeito disfarce para as sardas, digamos que nos contos atuais soava uma perfeita "Betty, a feia", entretanto extremamente competente, habilidosa, e eficaz.

Se aproximava o fim do meu primeiro semestre na empresa e era de certa forma curioso como eu ainda não conhecia todos ali, é claro, exceto a turma do choppinho das sextas, existiam ainda minhas restrições com os departamentos de marketing e contábil, mas as alianças sempre existiam, o ambiente era bom, e acho que encontrei um lugar onde eu estava realmente à vontade.
Naquele mês andaram fazendo uma espécie de recrutamento e seleção para os estágios na área de marketing, e choveram candidatas, sem perder tempo, a alcatéia farejava um novo ataque sobre as pobrezinhas estagiárias indefesas.
Sempre fui muito observador e amante dos detalhes, raramente deixava passar algo em branco, contudo ainda impressionava-me todas as vezes que passava em frente a sala da diretoria financeira e encontrava a porta entreaberta, na mesa ao fundo o porta retratos com uma foto dela com marido, de belos olhos azuis e já calvo não negava seus cinquenta e poucos, com a cara do mais soberbo dos argentinos de Buenos Aires.
Não precisava ser um expert em línguas pra saber que se tratava de mais um embate conjugal, cujo obviamente, não era da minha conta, mas eu pensava como alguém gostaria de brigar com uma mulher daquelas.

Graças aos Deuses da informática os servidores de backup fizeram o favor de me intimar à uma hora extra nesta sexta, e lá estava eu, trancafiado no CPD com Paulo e Alex, grandes amigos (da onça) que me deixaram numa tremenda furada quando resolveram achar que estava tudo bem e que segunda feira tudo estaria funcionando normalmente. Já passava das dez quando eu resolvi tomar o derradeiro cafezinho, inclusive achando que estaria sozinho no escritório, cantarolava pra distrair a mente. Entretanto não me surpreendi, nem quando vi Monique atolada numa pilha de papéis, tampouco quando vi a porta entreaberta da sala da Angélica com a luz acesa. Calmamente voltei para o covil afim de terminar minha insólita maratona.
Praticamente pronto para sair e torcendo para que nada mais desse errado, apanhei minha mochila e apagando as luzes pude ouvir sons pouco comuns naquele momento. Não tinhamos um turno noturno no prédio, e nem precisei apurar a audição tanto assim ao cruzar a porta para saber de onde vinha. O ângulo favorecia perceber que não vinha da mesa da Monique, incluindo que a própria não estava presente, a audácia de bisbilhotar a sala da "chefe" era bem menor do que a prudência, por isso resolvi dar as costas e sair.

- Arthur!

Pude ouvir, claramente meu nome e não existia mais de um, sobretudo depois das dez da noite no escritório.

- Sim?!
- Por gentileza, querido. Disse Angélica.

Mais problema?! Que inferno, eu só queria ir pra casa antes de ser importunado pela enésima vez.
Larguei a mochila e cruzei o corredor pesarosamente, parando no arco da porta e sentindo os pés congelarem instantânemante o estômago despencar dentro de mim num mal súbito, boquiaberto, e hipnotizado deparei com Monique completamente nua, ajoelhada, beijando os pés da Angélica, que igualmente despida, acariciava e puxava seus negros cabelos cacheados induzindo, instigando e explicando o caminho certo.

- Já está de saída?
- S.. ssssim.. E-eeu, já tttava indo, pp-ppprecisa de a-aalgo?
- Ainda tem pressa?!

Não deu pra raciocinar muito, eu nunca falei mais do que uma dúzia de palavras com nenhuma das duas em quase seis meses na empresa.
Não tinha muito o que conversar, não teria assunto.
No auge da minha pecepção tão apurada fui incapaz de perceber que toda sexta feira as duas eram sempre as últimas a sair, e que nunca fizeram parte da turma do choppinho, e sempre passavam por nós enquanto estávamos lá embaixo entre um gole e outro.
Tolinho.. Quem disse que as meninas não sabiam se divertir?




Song 4 the moment - Sade, Kiss of life

Aulas de direção

"Quando você vai me ensinar a dirigir?"
Eu tinha que dormir com essa pergunta martelando minha cabeça durante algumas semanas.

Naquela noite de quinta fui honesto, telefonei cedo, combinei o tradicional cineminha, cheguei no horário, fui paciente com o atraso dela, fiz tudo como mandava o script. O filme não era de amor, mas era algo comum nosso e gostávamos de muitas coisas assim, foi bom pra "quebrar o gelo", comprei bastante comida para que nossas bocas estivessem suficientemente ocupadas mastigando e nossos lábios igual ressecados tamanha quantidade de sal nas pipocas rs..
Parecia fugir do confronto direto.
Mas nosso magnetismo era inevitável, possa polaridade maltratava qualquer aspecto físico que ousasse desafiar uma separação. Mão na mão, mão na perna, uma cabecinha no ombro, e pronto lá se foi o primeiro beijo no pescoço da noite. Distraído, é claro, inocente? Nem tanto.
Ao término das duas horas de filme, (e juro que me concentrei) resolvemos ir pra casa. E no estacionamento do shopping às 2 da manhã eu tive que ouvir de novo: "Ah vai, me ensina a dirigir"
Não deu pra negar o pedido, mas acho que foi meio idiota ideia de trocarmos de lugar dentro do carro, qualquer atrito nosso era pura combustão e eu, simplesmente surtei.

"O conjunto da embreagem possibilita a transferência de potência e torque das suas pernas para a minha transmissão de forma progressiva, fazendo com que o seus quadris sejam colocados em movimento confortavelmente. Quando o pedal é pressionado, interrompemos este fluxo de potência e torque para possibilitarmos as mudanças de posição, ou marcha." Era isso mesmo?! Em alguns segundos minha amnésia supriu meu fôlego e eu simplesmente esqueci que era aula de direção e não prática de sexo.
Eu a desejava, e não podiamos ignorar isso, meio apertados pelos painel, incomodados com o câmbio, desajeitados, sôfregos, e loucos de paixão e quando seus beijos giraram a chave da nossa ignição, ela acionou meu o motor de arranque, que fez o seu motor ligar e deslizavamos nossas mãos feito pistões entre mordias no queixo e nas orelhas, tive minhas costas dilaceradas pelas unhas dela, numa incrível tração de seu quadril e meus braços, impulsionamos todo o combustível que nossa alma precisava naquele momento, e foi perfeito.

Mas como toda ferrari, meu relógio também corria, e precisávamos ir embora. E em segurança, com prudência e ouvindo no rádio uma canção à la Come Undone, deixei a princesinha em casa batucando no volante.

"Beijos querido, adorei a aula de direção. Precisamos marcar outra"

.. e lá fui eu novamente, pra fazer um retorno irregular ao meu lar, e dormir outra vez com a maldita aula de direção martelando minha cabeça.




Song 4 the moment - Careless Whisper, George Michael


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